se você já pensou coisas como "nossa a cidade flerta nunca fura a bolha", "só história de não-monogâmicos, esquerdistas, homens que usam ecobag", "eskibar pra lá, pito pra cá", "cadê a porto alegre do melo? a porto alegre que tem o primeiro date no roister? cadê a representatividade dos casais de direita?". bom amigos… chegou o grande momento!
vamos furar a bolha?
imagina um filme de romance porto-alegrense. o enredo começa com os protagonistas se conhecendo numa eleição de dce da pucrs, mas diferente do que você está pensando eles não são de esquerda - muito pelo contrário - eles fazem parte da chapa mais fascista que tá concorrendo a eleição. porto alegre precisa desse enredo nos cinemas!
bom… tudo começou quando eu conheci um rapaz por acaso numa festa aleatória, a bebida me fez seguir ele no instagram e a vergonha me fez não parar de seguir no dia seguinte. ele continuou ali aparecendo de vez em quando no meu feed e nunca dei muita bola. até o dia em que ele postou o primeiro story com a mais nova namorada dele, e assim começou minha jornada sociológica e documental que durou um ano e hoje se encerra com essa news.
na minha rede de amigos existem muitos casais, monogâmicos ou não, todos eles são compostas por pessoas de esquerda - ou pelo menos não conservadoras. analisar a relação de um casal monogâmico de direita foi uma experiência fascinante! apesar de rir dos meus amigos que chamam o parceiro de afeto, foi ASSUSTADOR conhecer um casal realmente monogâmico. aqueles que nem se dizem monogâmicos, afinal essa é única forma relacional que eles conhecem.
já dá pra imaginar como se parece um casal que teve seu primeiro date no shopping iguatemi. se você se esforçar consegue imaginar tudo, como Ela se parece, como Ele se parece, como o apartamento deles é decorado e até qual as legendas das fotos de casal. tudo extremamente óbvio, cafona e incrivelmente hipnotizante. no início parecia apenas um casal de direita muito apaixonado, mas depois de muitos conteúdos com rosas vermelhas, beijos de língua explícitos e rolês hetéros eu percebi algo estranho. absolutamente todo story que ela postava, a diva marcava o namorado para ele também repostar. todas as selfies, todas as fotos mais aleatórias, stories ouvindo música, fotos no carro, tudo ele repostava.
depois dessa primeira red flag, com alguns meses de namoro eles começaram a morar junto e trabalhar na mesma empresa. aos poucos, os dois estavam se fundindo e se tornando o mesmo ser. eles nunca estavam com outras pessoas, amigas, colegas, família, rolês individuais. sempre juntos.
com menos de um ano de relação, os pombinhos noivaram! óbvio que o pedido foi na serra gaúcha e envolveu balões, fotos de falsa polaroid e muitas pétalas de rosas espalhadas pelo quarto, tudo isso sendo documentado para ser postado em todas as redes logo depois.
no último mês, eles postaram um story "somos três, logo seremos quatro". o story era pra avisar que eles tinham adotado um lulu da pomerania. é incrível que o cálculo que eles fizeram foi hoje somos três (ela, ele e o cachorro que acabaram de adotar) e logo seremos QUATRO (ela, ele, o cachorro que acabaram de adotar e o suposto filho humano que ainda não existe).
o cachorro tem nome de criança que nasceu em 2014 e também tem o próprio quarto! espaço decorado com leds, letras de pvc, caminhas e brinquedos. algo muito interessante é que o primeiro brinquedo do cachorro foi uma CHUPETA, o cachorro provavelmente só queria brincar com uma garrafa pet vazia ou sei lá uma meia usada. olhando tudo isso do lado de fora eu sinto que freud devia sentir a mesma coisa analisando os pacientes dele em 1920.
essa odisseia não tem um final pronto, provavelmente dentro de alguns meses eles vão casar e logo depois botar um boneco no mundo. mas, em alguns anos, algo vai acontecer. eu tenho certeza que um dia vou ver a foto deles nas capas de jornais e seus nomes nos trending topics. os crazy eyes nunca mentem, ela vai matar alguém? ele vai se meter num escândalo de lavagem de dinheiro? eles vão acusar a pet shop do cachorro de ser comunista? vão comprar um bebê reborn e cuidar como filho? todas opções me parecem possíveis.
eu sou acusada pelos meus amigos de sempre ficar com pessoas da “bolha jovem twitteira porto-alegrense que frequenta o rio branco”, eu não posso negar as acusações. é verdade.
MAS, quando eu conheço algum homem hétero de fora da bolha eu rapidamente me arrependo. se antes meus problemas eram putz meu ficante ficou minha amiga, com os homens de fora do MundinhoEsquerdomacho™︎ o problema vira putz meu ficante agrediu um cara fisicamente só porque ele olhou pra mim.
ok, é super bacana ter um homem que paga tudo pra você, que te leva nos lugares e aceita ir num restaurante chique invés de um barzinho qualquer. porém, o jantar não sai de graça garotas! na cabecinha deles como pagaram uma massa e uma taça de vinho você é uma coitada, um objeto que deve devoção, sexo e lealdade eterna. “mas nossa bibi meu ficante paga as coisas pra mim e ele não é assim!”, tem certeza? vocês já brigaram? ele nunca jogou na cara “mas eu paguei eu sei lá o que então tu me deve algo”?
é diferente se essa pessoa é teu namorado ou vocês tem uma relação mais intensa, mas agora ficantezinho de tinder que paga tudo? aí tem.
qualquer dia desses você pode encontrar ele beijando outra na festa e você vai ter algumas opções:
confrontar ele e ser chamada de maluca;
ficar com outra pessoa e ser chamada de vagabunda;
não fazer nada/ficar triste e ser chamada de dramática.
choose your fight e boa sorte!
+ dicas da bibi!
matilde campilho: talvez você já tenha passado em alguma rede social por um vídeo de uma portuguesa sorridente falando “era capaz de atravessar a cidade em bicicleta só para te ver dançar. e isso diz muito sobre minha caixa torácica”. essa é matilde, escritora e poeta portuguesa que morou no rio de janeiro uma época. Jóquei foi o primeiro livro dela e até hoje um dos meus preferidos de poesia.
esse vídeo é a voz dela recitando fevereiro, vale a pena escutar! ah, e tem legenda em pt brasil pra quem não entende muito bem o português de portugal hehe
Dá pra imaginar um texto desse de cada cantinho do Brasil, mas a essência é (essa) a mesma! ;)))
dei risadas em varias partes do texto e consegui de fato visualizar muito do que voce descreveu!