de tempos em tempos, sou invadida pela melancolia de sentir-me presa na própria cabeça pensando incessantemente “afinal, quem sou eu?”. uma versão menos bonita do poema se eu fosse eu da clarice. essa crise geralmente aparece perto do meu aniversário ou de alguma conquista importante, e ,é óbvio, com o aniversário da news a crise chegou.
"Se eu fosse eu" parece representar o nosso maior perigo de viver, parece a entrada nova no desconhecido. No entanto, tenho a intuição de que, passadas as primeiras chamadas loucuras da festa que seria, teríamos enfim a experiência do mundo. Bem sei, experimentaríamos enfim em pleno a dor do mundo. E a nossa dor, aquela que aprendemos a não sentir. Mas também seríamos por vezes tomados de um êxtase de alegria pura e legítima que mal posso adivinhar. Não, acho que já estou de algum modo adivinhando porque me senti sorrindo e também senti uma espécie de pudor que se tem diante do que é grande demais.
lembro pouco da bibi antes de virar a guria da newsletter, é até estranho pensar que um ano atrás eu não escrevia absolutamente nada sobre amor, sentimentos ou relacionamentos. twittava muito sobre isso, adorava conversar nas mesas de bar, consumia qualquer conteúdo do tema e passava o dia inteiro pensando pensamentos sobre, mas escrever? jamais. sempre odiei escrita criativa e achava todos meus diários de adolescência toscos e sentimentalistas.
as crises de identidade não fizeram parte da minha existência desde sempre, acho que dos 8 aos 16 anos fui a mesma. gostava de ser a mesma, ter os mesmos gostos, opiniões e rotina - que na verdade eram uma cópia da personalidade das mulheres da minha família. a primeira transformação veio na pandemia, quando comecei a usar as redes sociais, criei uma conta no instagram e comecei a flertar. como o covid não permitia encontros presenciais, eu podia inventar, fantasiar e conversar com qualquer um, eu era apenas uma menina de 17 anos fingindo ser descolada e vivida. mas o mais louco é que muita gente caiu no golpe e acreditou que eu era mesmo descolada e vivida, e quem era eu para desmentir isso?
logo depois entrei na faculdade e aos poucos as vivências foram acontecendo de fato. a primeira festa, o primeiro porre, o primeiro cigarro, a primeira desilusão… tudo chegou com um pouco de atraso ao que já parecia ser parte da minha vida. não achava legal espalhar pro mundo que eu fui uma adolescente chata, que ficava em casa e não tinha uma boa história pra contar, era vergonhoso reconhecer que por muito tempo meu Eu teria aversão ao meu Eu de hoje. comecei então a me meter em muitas furadas, aceitar qualquer convite e ter MUITA história pra contar.
um ano atrás criei a news e decidi contar essas histórias, mas veja bem a que escreve aqui não sou eu. é uma persona, tipo aquela que criei com 17 anos para flertar com os caras de 20 e poucos anos no twitter. aqui eu não invento história, como antes fazia, não preciso mais disso, mas coloco uma partezinha da minha personalidade num microscópio e aumento ela em mil vezes.
no ínicio disso tudo, minha mãe ficava preocupada comigo, dizia “tu escreve sobre sexo?”, como se isso me tornasse a laura müller porto alegrense. já a minha irmã falava que os homens iriam se afastar de mim se eu continuasse sendo tão “autossuficiente” e contando sobre minhas relações aqui. na época não liguei pra nenhum comentário, mas curiosamente nos últimos tempos eles tem aparecido com frequência na minha cabeça. será que eu sou isso? a prostituta das palavras, risos…
pior que talvez sim.
e meio que tudo bem, aprendi que com a parte boa da escrita (nada mais gratificante do que ler um comentário de alguém que se identificou com o texto) vem também a parte ruim, a vulnerabilidade e a não compreensão das pessoas sobre partes de ti.
na última segunda-feira à noite decidi faltar a aula da faculdade e ir num evento junino, eram nove horas da noite e eu deveria estar numa aula, mas tava na fernando machado bebendo um drink, fumando um cigs e conversando com mulheres sobre o único tópico que nos unia… relacionamentos. uma das mulheres que participava era pernambucana e falou muito sobre as diferenças de flerte entre o nordeste e o sul do brasil. lá o clima mais quente favorece o dengo, o aconchego, a dança, o suor e o papinho ao pé do ouvido de acontecer. aqui, o flerte é mais esforçado, é preciso conquistá-lo tempo ao tempo, em porto alegre se não existe desafio, não existe tesão.
enquanto conversávamos sobre nossas experiências, projeções e afetos me senti plenamente feliz. saber que alguém se sente confortável pra me contar o que há de mais íntimo me faz pensar que eu sou muito sortuda. quanta história eu fiquei sabendo no último ano? muitas nem vieram parar aqui na news. um bando de gente que nem me conhece decidiu se abrir pra contar um pouquinho da vida, e eu, particularmente, acho isso lindo. apesar de ser um projetinho pequeno, a cidade flerta mudou meu jeito de pensar, sentir e ser. e tenho 99% de certeza que mudou pra melhor!
to sendo piegas, porque não conseguiria não ser. minha história com a escrita é a minha mais bonita história de amor.
vídeo de aniversário!
um ano de news e a pergunta mais importante ainda não foi respondida, afinal, a cidade flerta? para resolver essa questão, fui às ruas de porto alegre em busca de resposta. o resultado tu pode conferir neste vídeo:
ah e aproveita pra seguir a cidade flerta no instagram!
+ dicas da bibi!
arraial da cabral: nesse domingo, dia 30 de junho, vai rolar uma festinha junina de rua ali na rua cabral, no rio branco. vocês sabem que eu adoro rolê 0800 e ainda mais com música, comidinhas, drinks e feirinha! o evento é realizado pelo Tô na Rua e pelos bares já conhecidos pela gurizada Fenix, Markt American Food, Miau da Cabral, El Aguante, Espontâneo e Corujas Pastéis. o arraial vai rolar das 14h às 19h e quem for aproveita pra me dar um abraço!
mais infos no insta do amigos da cabral!