ela voltou, a mais temida de todas!
acho que em outubro já está liberado dizer que 2024 foi um ano complicado, né?
quando eu paro para contar o saldo desse ano, o resultado não me parece muito positivo: um término de namoro, um emprego chato, uma casa inundada, duas dívidas que só crescem e mais um despejo de apê… contra as expectativas, não me sinto horrível, me sinto até bem! mas me sinto distante pra escrever sobre paixão, dates e amores não correspondidos.
tentei escrever, não falta história. falta vontade. a minha solução foi encontrar um ponto de encontro entre o que vocês querem e o que eu posso oferecer no momento. um texto meio melancólico, mas sincero… e claro, com história boa.
o sentimento de fracasso me acompanha desde que me reconheço como mulher, principalmente o fracasso amoroso. toda mulher lembra daquelas situações na infância, quando a gente só queria brincar de barbie e vinha uma tiazona nas festas de família perguntar sobre os namoradinhos da escola e nos restava rir e abrir um sorriso amarelo. uma vez no meu aniver de 10 anos cantaram depois do parabéns aquela infeliz música do "com quem será que a bibi vai casar", a minha primeira reação foi correr e me trancar no banheiro. lembro também de receber um xingão da minha mãe sobre a minha atitude deselegante e mal educada.
para mim, a repressão sempre caminhou junto da vergonha, eu sempre tive um medo tremendo de ser descoberta como não experiente, não beijoqueira e não atraente. então o meu método era jamais falar sobre a minha vida amorosa pra ninguém, nem família, nem amigas, ninguém. assim, eu achei que passaria despercebida.
na adolescência pararam de me perguntar sobre os supostos namorados, sabiam que eu não iria responder. e foi nesse período que tudo piorou em 200%, via todas coleguinhas começando a beijar, flertar e eu nada. espinhas, hormônios, confusão mental, não é nada fácil ser uma guria de 13 anos. um homem nunca vai entender certas coisas que a gente entende na puberdade - talvez com uma grande quantidade de alucinógenos, ou numa experiência de quase morte ele consiga entender uns 40% do que a gente aprendeu nessa época.
nos diários da capricho que eu tinha com 14 anos eu escrevia a palavra sexo com canetinha preta e ainda colava as página que essa palavra proibida aparecia pra não dar chance de ninguém ler. era tudo tão místico e pecador. repressão, vergonha, mentiras sobre experiências inventadas até que ufa finalmente vieram as experiências. mas diferentemente do que eu imaginava, o sentimento de culpa continuou por um tempo, algo me dizia que tudo que fazia e pensava era errado e algo de ruim iria acontecer comigo como forma de punição, de karma cósmico. como destruir a simbologia de uma palavra? como tirar esse sexo escrito de canetinha preta dentro de mim?
início do ano, eu estava contando uma fofoca pra uns amigos no Pito quando um desconhecido pediu pra falar comigo. ele falou como eu estava bonita, como tinha a certeza que tínhamos dado match no tinder e pediu meu instagram. eu achei ele bonito, corajoso, e passei o meu @. depois do Pito, fui pra uma festa e adivinha quem estava lá? o mesmo rapaz! nos beijamos e ali se iniciou uma história que evitei contar aqui por um tempo.
K. sempre foi muito educado, cavalheiro e até pagava o date - figurinha rara atualmente… ele vinha de uma família classe média alta, mas de esquerda, estudou num dos colégios mais caros da cidade e era um clássico filhinho de mamãe.
na primeira vez que fui na casa dele, depois de uma festa, ele disse que estava muito bêbado para fazer algo e nada aconteceu. na segunda vez, o problema era a falta de tempo, era meio da tarde e precisávamos ir pra aula. na terceira vez, depois de um ótimo encontro, com a quantidade certa de bebida e tempo, nada aconteceu novamente.
na mesma semana do terceiro date, ele me mandou uma mensagem onde dizia que eu era meio travada na cama. depois de eu responder de forma irônica a esse travada, ele começou a reclamar do jeito que eu me comunicava e expressava meus sentimentos, explicando pra mim que era possível falar sem fazer piadinhas. uau eu não sabia disso! o cara que critica minha sexualidade e minha forma de me comunicar não quer me beijar, quer virar meu inimigo.
a verdade é que a mente do palhaço não estava muito boa. eu pensei “tá aí o primeiro homem que teve a coragem de dizer o que eu realmente sou”! e assim começou um surto de pensamentos horríveis sobre mim mesma, iguais aqueles que eu tinha quando adolescente. por mais que eu tentasse pensar com a razão, a emoção vencia.
um dia, num evento aleatório, decidi abrir a situação para um amigo que havia estudado no mesmo colégio que K. e foi aqui que a história começou a ficar boa.
laudo de K.: namorou por muitos anos uma colega de escola, terminou há um ano, mulherengo, fala abertamente mal das mulheres que fica no grupinho de amigos.
mas uma conta não fechava. mulherengo? por que então nunca acontecia nada na cama?
e aí eu descobri a resposta, o jovem de 24 anos era viciado em viagra.
sim.
logo depois do ocorrido, quando eu ainda estava processando as informações, eu fui na mesma festa que ele estava. depois de muitas bebidas, acabamos ficando, mas segui o meu rumo. não é que ele tem a coragem de empurrar um rapaz que beijei depois? e no outro dia ainda acordo com mensagens no meu celular me chamando de otária e block nas redes sociais. dei risada, não conseguia mais levar nada vindo dele a sério.
depois vi ele mais uma última vez, no bar em bar, e óbvio ele veio tirar satisfações comigo. uau, que horror eu ter beijado uma pessoa numa festa que fui sozinha! perguntei o porquê do empurro e essa foi a resposta que recebi: "foi a testosterona", aí desandou, virou circo. ele me xingou, eu xinguei e enfim pra encerrar a discussão fui chamada de puta.
nada de novo sob o sol.
acho que essa poderia ser uma história particular sobre consecutivas falhas de comunicação, mas não é. no momento que eu descubro mais cinco mulheres que também se sentiram vulneráveis em situações promovidas pela mesma pessoa, eu vejo um padrão. sempre comentários desconfortáveis mascarados de piadinhas. e por conta disso, que eu me senti motivada e autorizada pra contar essa história - que no primeiro momento parecida íntima demais para expor.
enquanto escrevia a news, lembrei de mais um pedaço da história do meu aniversário de 10 anos. o menino que teve seu nome cantado no meu com quem será - meu suposto noivo- passou mal depois do parabéns e foi embora da festa. imagino que ele:
deve ter se envergonhado da mesma forma que eu;
me viu correndo pro banheiro e sentiu-se rejeitado.
a situação desconfortável atingiu nós dois, a repressão sexual atingia nós dois - mas de jeitos diferentes. enquanto as meninas de 12 anos aprendem como devem se comportar para não serem vistas como deselegantes e putas, os meninos são incentivados a serem os comedores. ser homem, machão, sexo forte é ser potente. e se a potência falha, se a vulnerabilidade aparece? a maioria preferem lidar com a violência, não necessariamente contra a mulher, mas principalmente contra o próprio corpo e seus limites.
conheço muitos relatos de homens jovens tomando viagra ou tadala pra aumentar o desempenho sexual. o que eles querem? virar broxa, calvo e com problema cardíaco antes dos 30?
esse texto tá longe de ser uma crítica a ausência de sexo, é completamente normal ter libido baixa ou alguma disfunção sexual. homens e mulheres, estamos todos no mesmo barco - um barco lotado de remédios psiquiátricos e efeitos colaterais. mas me parece uma boa alternativa resolver isso com psiquiatra, terapia e conversando com suas parceiras. conhecendo melhor o próprio corpo e descentralizando o sexo do falo, chega dessa tara decadente de achar que sexo é só sobre pau duro.
mas não, homens tipo esse que eu conheci querem pegar todas minas da cidades, mas o corpo não deixa. a mente trava. ele recorre a viagra, e provavelmente deve sofrer horrores achando que não é homem o suficiente, não é potente o suficiente, que não tem testosterona suficiente. então pra se autoafirmar diz que acha legal comer mulher com azulzinho e tratar elas como um objeto descartável. mas isso só torna a história mais deprimente.
quem sabe se começarmos a olhar as nossas próprias questões e inseguranças de forma mais sincera, resolutiva e amorosa com nós mesmos, a gente possa transar mais. sem viagra, sem repressão e sem culpa.
+ dicas da bibi!
playlist: escrevi boa parte deste texto escutando a minha playlist de outubro, então decidi compartilha-la com vocês! tem leonard cohen, beatles, francoise hardy e clássicos de trilha sonora de comédia romântica! façam bom proveito:)
É dureza gostar de homens...Enquanto nós damos duro para cuidar de forma madura com as nossas questões e traumas, eles seguem se comportando feito uns moleques de 10 anos de idade... francamente. Uma abraço, Bibi!
Que news bem escrita!! Bem vinda de volta! Você tem um jeito de contar histórias muito bom!